10 de fev. de 2011

RECREIO - tempo livre ou dirigido?

O TEMPO DO RECREIO NAS ESCOLAS

                ‘Recreio’ vem de recrear: renovar, reanimar, distrair, alegrar. O que está acontecendo nos recreios das escolas? Um tempo que deveria ser livre, um dos poucos momentos de autonomia que as crianças têm neste carrossel de obrigações, atividades e tarefas que a sociedade lhes impõe.
Uma pesquisa realizada em 2002 pela Escola de Medicina Albert Einstein nos Estados Unidos – onde o tempo do recreio está ficando a cada ano mais curto – junto a aproximadamente onze mil alunos da 3ª. série mostrou a importância do recreio para as crianças socializarem, brincarem e liberarem energia e, assim, terem melhor desempenho escolar. Porém, um movimento contrário está acontecendo nos Estados Unidos: os castigos por mau comportamento proíbem a saída para o recreio e as crianças acabam ficando presas e, portanto, mais agressivas e revoltadas.
O que acontece hoje em muitas das nossas escolas? Ao mesmo tempo em que a consciência da importância do tempo do brincar cresce, dependendo da forma como ele for proposto, pode ser também contraproducente. Explico: está havendo um movimento de escolas que, argumentando que as crianças de hoje não sabem brincar, estão propondo atividades dirigidas no tempo do recreio. Não será que dessa forma, mais uma vez, tolhemos a autonomia e deixamos as crianças sem voz, sem liberdade para ‘respirar’, para fazerem o que tiverem vontade? Não é porque as crianças na hora do recreio não estão brincando daquilo que nós adultos achamos que seja ‘adequado’, que elas não estejam tendo seu tempo lúdico. Ou seja, brincar na biblioteca, conversar ou contar piadas para os amigos, fofocar, olhar outras crianças, bater figurinhas, descansar, inventar jogos, correr, ficar à toa e até ler jornal – como ontem um menino de 12 anos me contou –; qualquer atividade em que as crianças possam ser crianças do jeito que queiram, vale!
O que está faltando é ficarmos menos diretivos, menos controladores e mais abertos para ouvir o que as crianças estão conversando, querendo, do que estão reclamando, que brincadeiras estão inventando. Está na hora de ficarmos mais atentos e abertos para suas inquietações, seus interesses e conhecer que novos mundos elas estão criando.
As crianças estão brincando quando têm autonomia. Deem uma espiada no Mapa do Brincar http://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/mapadobrincar/ para conhecer como elas estão brincando por aí!

5 comentários:

  1. Adriana,
    Este seu artigo veio em boa hora, não veio em ótima hora!
    Esta é uma discussão que ultrapassa o recreio, em todos os momentos nos quais as crianças não estão sendo " controladas" a sensação do adulto é de que nada esta sendo feito, aprendido ou ensinado. O espaço do ser que aprende a se relacionar se relacionando, que aprende a brincar brincando é roubado pelos planejamentos mirabolantes que pretendem ensinar conteúdos específicos( nossa demanda socio-cultural) e estimulam as crianças a não estarem nelas mesmas, ou melhor a não experimentarem a delícia da descoberta delas mesmas( do seu corpo, movimento, pensamentos e desejos).
    Fico muito feliz com toda essa sua iniciativa e agradeço por compartilhar conosco sua sensível e profunda sabedoria e respeito pelas crianças!
    Um grande beijo,
    Joice

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  2. Adorei seu artigo: a ansiedade dos adultos é tanta, que não consegue dar tempo para a brincadeira acontecer espontaneamente; da mesma forma, a 'desculpa' da brincadeira livre abre espaço para o abandono, descanso do professor, sem qualquer observação das manifestações das crianças... ambos os episódios requerem formação e reflexão; bjs


    Alice Proença

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  3. Adri,

    A pressão por rendimento, por resultados e um lugar no ranking... leva as escolas a oferecerem inumeras atividades, sem o verdadeiro tempo para que tudo possa de fato ser usufruido com significado pelos alunos. A criança deixou de ser o foco das ações e passou a ser objeto delas... Infelizmente não são as crianças que não sabem brincar,temos adultos que lidam com elas que já perderam ou mesmo não tiveram sua capacidade ludica aflorada... A escola precisa resgatar essas capacidades no seu ambiente. Acredito que isso faz parte do processo de humanização da educação.... Perder espaços de brincadeira é perder também o lado humano que cabe a educação. Vou compartilhar seu artigo, quem sabe plantamos a semente que pode sensibilizar para o brincar. bjs!!! Tânia Fukelmann Landau

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  4. Ontem saiu uma matéria no caderno VIDA do Estadão falando sobre este assunto onde também dei minha opinião http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110213/not_imp678897,0.php.
    O debate está no ar.
    Obrigada a todos pelos comentários tão pertinentes.

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